Conhecem-se os benefícios de as crianças passarem menos tempo em espaços fechados. Mas, o que podem os pais e as escolas fazer? A solução passa por estimular a brincadeira e até a aprendizagem na rua.
O consenso existe e poucas dúvidas subsistem sobre este tema: é importante que as crianças brinquem mais e, de preferência, ao ar livre. Os benefícios são muitos, não só em termos físicos mas também cognitivos e emocionais. Ainda assim, são escassas as medidas institucionais para incentivar esta prática entre nós.
Luís Ribeiro, presidente da Associação de Profissionais de Educação de Infância (APEI), reconhece isso mesmo: “Podemos dizer que faz parte da retórica do discurso, quer dos professores quer da administração educativa, mas não das suas práticas. Embora os currículos incluam o ensino experimental e a atividade física e desportiva nos respetivos programas, particularmente no primeiro ciclo, a verdade é que raramente foram implementadas políticas educativas que o favorecessem.”
A consequência disto tudo ficou bem patente nos resultados de um estudo levado a cabo pela marca SKIP no nosso país, segundo os quais cerca de 70% das crianças portuguesas passa menos tempo ao ar livre por dia do que os 60 minutos recomendados para os detidos em prisões. Foi precisamente para ir ao encontro desta necessidade que SKIP criou o movimento Dia de Aulas ao Ar Livre, a realizar no dia 6 de outubro, aberto a todas as escolas, professores e pais que queiram subscrever e aderir.
O objetivo é simples: proporcionar que todas as crianças possam ter um dia de aulas no exterior. Por considerar que brincar ao ar livre é fundamental para a aprendizagem de valores como a resiliência, o trabalho em equipa, a liderança, a criatividade e o desenvolvimento motor, a marca pretende não só proporcionar um dia diferente às crianças como sensibilizar a sociedade a questão.
Também para Diogo Castro Pereira, presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola Básica/Jardim de Infância do Alto de Algés, “os professores deveriam poder sair para a rua com as crianças e mostrar, exemplificando, algumas das matérias que pretendem lecionar”. Isto porque “o português, o estudo do meio e a matemática estão por todo o lado à nossa volta, dentro e fora de casa, é só uma questão de saber adequar um bom exemplo a uma matéria que ficará na memória das nossas crianças”, justifica.
O responsável acredita que “cabe aos pais em casa e aos responsáveis pelos planos pedagógicos inovar e procurar novas maneiras de ensinar, brincando”. Desta forma, será possível que as crianças estejam mais aptas a “aprender sem pressão, descontraídas e com uma abertura para assimilar diferente daquela que têm em sala”.
E, mesmo sabendo que esta lógica não pode ser aplicada a tudo, salienta que “temos de perceber e melhorar os nossos programas curriculares, que por vezes parecem feitos por quem nunca saiu da cidade, abriu uma janela ou saiu pela porta para viver e sentir o que se passa lá fora em todas as estações do ano”.
Para potenciar o contacto dos mais novos com o ar livre, entende que as escolas com espaço disponível “podem criar recreios mais adequados à liberdade das brincadeiras, ainda que com supervisão”. Aliás, na sua perspetiva, uma das razões que mais impede as crianças de passarem tempo no exterior prende-se com questões de construção: “A arquitetura da nossa escola e de muitas escolas do nosso agrupamento não foi feita para essa vertente. Muito betão, muita arquitetura minimalista e pouco adequada às idades e ao local onde está implantada a escola.”
Nas suas palavras, esta é uma questão específica que tem vindo a ser debatida nos últimos anos, já que “o espaço de recreio é demasiado exposto aos elementos atmosféricos, não dando a proteção necessária quando chove ou quando está muito sol e calor”. Como consequência, refere que a associação a que preside “já apresentou várias propostas às entidades responsáveis pelo espaço, no caso a Câmara Municipal de Oeiras, e irá continuar a insistir até que se consigam melhorar as condições atuais do recreio da escola”.
Também Luís Ribeiro clama por maior integração da vida real nos programa escolares: “Na educação de infância e no primeiro ciclo do ensino básico é muito importante que os docentes compreendam que o currículo tem uma natureza holística, quer isto dizer que, na sua operacionalização, todas as áreas do saber devem ser abordadas de forma transdisciplinar, ou seja, devem fazer-se sistematicamente pontes entre elas, para dar sentido ao que os alunos aprendem.” Por outro lado, considera “fundamental compreender que as aprendizagens devem partir do que as crianças sabem e dos seus contextos de vida, pois essas aprendizagens tornam-se, assim, significativas para elas”.
Na sua opinião é igualmente relevante que as escolas entendam a importância que a brincadeira tem no desenvolvimento das crianças. Nesse sentido, defende que “na gestão dos horários dos alunos e das atividades de apoio à família/enriquecimento curricular, o brincar deve assumir uma centralidade inequívoca, evitando-se uma extensão do academicismo escolar até às 17h30 ou 18 horas”.
No mesmo sentido, sustenta que “sobrecarregar os alunos do primeiro ciclo com trabalhos para casa será sempre uma estratégia errada e deslocando para o espaço familiar a lógica escolar, quando seria muito mais importante, sobre qualquer ponto de vista, fortalecerem-se as dinâmicas familiares”.
A este propósito, Luís Ribeiro elogia a decisão do Agrupamento de Carcavelos, que aboliu as retenções e os TPC, considerando-a “um excelente exemplo de como uma escola e os seus professores podem construir lógicas organizacionais alternativas”. Mas lamenta a forma como a administração pública olha para as escolas e para a sua autonomia: “Uma retórica pura que não tem consequência entre o que se diz e o que se legisla, ou entre o que se legisla e na verdade se decide, impedindo que estes exemplos se possam disseminar e coartando a transformação da escola.”
Além das escolas e professores, cabe também aos pais fazer algo para que os filhos não fiquem horas fechados em casa. De acordo com Diogo Castro Pereira, “aqueles que deveriam brincar mais com as crianças, estimulando-as e ensinando algumas das brincadeiras que faziam ao ar livre em criança, não o fazem”. E questiona: “Quantas vezes nos deparamos com crianças a quem nunca ensinaram ou mostraram como se pode brincar ao ar livre?”
Ao mesmo, retira a culpa tantas vezes atribuída aos gadgets eletrónicos, lembrando que “a tecnologia não pode ser desculpa para tudo, pois esta existe para otimizar e melhorar as nossas tarefas, até as tarefas de pai. Só temos de saber separar as águas e não deixar que sejam impeditivas. Por exemplo, hoje temos a facilidade de poder ler uma mensagem de e-mail no telefone, sem ter de ir a casa ou ao escritório, mas se calhar não o devemos fazer quando esse tempo poderá ser dedicado aos nossos filhos.”
Por também ser pai sabe bem do que fala e sublinha que “ninguém é perfeito”, admitindo que “a correria do dia-a-dia contribui para isto”. A terminar deixa mesmo uma chamada de atenção: “Temos de olhar um pouco para nós e para o legado que estamos a deixar aos nossos filhos, pois será isso que eles irão transmitir à geração seguinte.”
Em entrevista ao Observador, Paula Figueiras Carqueja, Presidente da Associação Nacional de Professores, revela a importância deste tipo de ações para as crianças.
O que trazem de fundamental iniciativas como esta do Dia de Aulas ao Ar Livre?
Todas as iniciativas que promovem ou promovam atividades lúdicas às crianças são sempre bem-vindas. A iniciativa da marca SKIP em que convida a comunidade educativa a levar a escola para “a rua”, sair da sala de aula, adaptar e conciliar as aprendizagens, o conhecimento à realidade, ou seja aliar a teoria à prática de uma forma lúdica, desenvolve o poder de investigação, de associação, o espírito crítico e o interesse pelo meio ambiente, pela realidade global que os rodeia e na qual estão inseridas.
O mais interessante desta iniciativa é o consciencializar para uma aprendizagem fora da sala de aula utilizando todos os recursos existentes no exterior, ao ar livre, seja um pau para desenhar, seja para a construção de uma espada, seja para ouvir o chilrear dos pássaros (…).
As nossas crianças, hoje, são os cidadãos/cidadãs com o horário laboral diário dos mais preenchidos na nossa sociedade, a escola a tempo inteiro.
Para além da atividade curricular obrigatória (5 horas) têm tarefas extracurriculares, natação, línguas, dança, artes marciais, ficando sem tempo para simplesmente brincar, pegar numa boneca e conversar com ela, pegar num carrinho e jogar. Estes são momentos emocionais importantes para o seu desenvolvimento integral, para aprender a lidar com a frustração, e as capacita a serem mais autónomas e perseverantes.
A nossa sociedade não está consciente da importância do brincar. Quando uma criança brinca desenvolve competências, nomeadamente físicas, mentais e emocionais, para além de se consciencializar do que a rodeia e ficar mais preparada para enfrentar situações adversas, tornando-a resiliente.
Benefícios do ensino ao ar livre
1. Melhor apreensão do meio ambiente;
2. Melhor qualidade na aprendizagem sensorial;
3. Promoção de estratégias de ensino/conhecimento, aplicadas em contexto real, obtendo melhores resultados de aprendizagem;
4. Com o movimento “Dia de Aulas ao Ar Livre”, as crianças desfrutam de uma experiência única de conhecimento de forma lúdica.
O que motivou a ANP a associar-se a esta iniciativa?
Um dos objetivos da Associação Nacional de Professores passa por apoiar e promover a realização de ações que contribuam para a dignificação da pessoa humana, objetivo essencial de todo o processo educativo.
Atenta a iniciativas que vão ao encontro do objetivo mencionado, a ANP aceitou participar e envolver-se neste movimento promovido pela marca SKIP. Consideramos uma oportunidade para um envolvimento a nível nacional das escolas e das famílias, de toda a comunidade educativa, neste Dia de Aulas ao Ar Livre, pela sensibilização da importância do brincar através de uma prática efetiva e, num só tempo, participar em práticas pedagógicas diferenciadas e de trocas interpessoais, usufruindo do património local.
Como é que escolas e professores podem pôr em prática este desafio no dia 6 de outubro (e depois replicar noutros dias)?
Observando o espaço onde está inserido o estabelecimento de ensino, o que rodeia, o que existe à sua volta (fotografar, filmar, desenhar ou simplesmente observar e relatar as observações), registando e identificando os ruídos locais, descobrindo os seres vivos, ente outras tantas coisas como correr, saltar, pintar, jogar…
Este artigo foi desenvolvido ao abrigo da parceria entre o Observador e a SKIP.
Obrigado por fazer parte do movimento, estamos ansiosos para saber o que vai fazer durante esse dia! Partilha com os seus colegas e amigos para nos ajudar a fazer com que todas as crianças possam sair mais vezes para aprender e brincar 🙂
Obrigado por fazer parte do movimento, estamos ansiosos para saber o que vai fazer durante esse dia! Partilha com os seus colegas e amigos para nos ajudar a fazer com que todas as crianças possam sair mais vezes para aprender e brincar 🙂
Obrigado por se juntar ao movimento, não podemos esperar para ver o que você comete no dia! Compartilhe isso com seus colegas e amigos para nos ajudar a tornar possível a cada criança sair ao ar livre para aprender e brincar todos os dias Confira as guias de recursos para idéias para o dia – e faça a aprendizagem e faça parte de todos os dias!”
OBRIGADO POR APOIAR DIA DE AULAS AO AR LIVRE!
Nós vamos enviar-lhe um boletim em breve. O tempo para jogar é fundamental para cada criança – compartilhe seus momentos conosco marcando #DiadeAulasaoarLivre e faça todos os dias um dia para aprender e jogar ao ar livre!